A lingua portuguesa non nos é allea na franxa máis occidental de Asturias. Se lo dudas… le este Poema de Sophia de Mello. Seguro que lo entendes sin ningún problema. E ademais é tan guapo que disfrutarás dobremente coa súa lectura. Solo tes que ter en conta un par de cousías:
-que a consoante /j/ hai que lela como el noso /x/,
-que a palabra poente significa “posta del sol, atardecer”,
-fíxate que a palabra quatro na nosa zona tamén é cuatro (e non catro, como nel galego normativo), o cual indica úa evolución máis cercana á etimoloxía (QUATTUOR latino) e úa solución máis arcaica e máis próxima al portugués :-),
-que el dígrafo lh (ele agá) hai que lelo como el noso dígrafo ll,
-e que el dígrafo nh (ene agá) lese como el noso ñ.
Fácil, verdade? E ademais de fácil… precioso! Que máis queremos?
Fotografía de Begoña Martín
QUANDO
Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
continuará o jardim, o céu e o mar,
e, como hoje igualmente, hão-de-bailar
as quatro estações á minha porta.
Outros em abril passarão no pomar
em que eu tantas vezes passei.
Haberá longos poentes sobre o mar,
outros amarão as coisas que eu amei.
Serão o mesmo brilho, a mesma festa,
será o mesmo jardim à minha porta
e os cabelos doirados da floresta.
Como se eu não estivesse morta.
Se nos mandas algún Poema maís en portugués, aumentaremos esta entrada. Anímate!
asociacion@axuntar.eu
E van chegando!!!
Temos outro Poema em português que vén vía mail (muitas gracias!). Tamén pode ser entendido con facilidade. Solo ten en conta un par de cousas a nivel léxico: as crianças son os nenos e nenas pequeníos e el algoz é el verdugo. A forma “Eu te conjuro, ó paz…” é un vocativo, úa chamada de atención dirixida Á PAZ. El resto… non ten complicaciois pra ser entendido. Disfrútalo, non solo polas palabras senón por el sou contido, tan apropiado -desgraciadamente- nestos momentos que nos tocou vivir…
Ode à paz Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza, Pelas aves que voam no olhar de uma criança, Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza, Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança, Pela branda melodia do rumor dos regatos, Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia, Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos, Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria, Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes, Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos, Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes, Pelos aromas maduros de suaves outonos, Pela futura manhã dos grandes transparentes, Pelas entranhas maternas e fecundas da terra, Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra, Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna, Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz. Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira, Com o teu esconjuro da bomba e do algoz, Abre as portas da História, deixa passar a Vida! Natália Correia, em "Poesia completa, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999.
E que vos parece escuitar este precioso recitado por Pedro Lamares -que tamén nos comparten-. É un Poema de Pessoa (baxo el heterónimo de Alberto Caeiro), titulado “O Tejo é máis belo que o rio que corre pola minha aldeia”.
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
e navega nele ainda,
para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
a memória das naus*.
O Tejo desce** de Espanha
e o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
e para onde ele vai
e donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
é mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além*** do Tejo há a América
e a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
* Naus, “naves”; ** Desce, “baxa, descende”; *** além, “máis alló”.
Contas portas se abren na nosa terra gracias á nosa lingua!
que guapo….precioso!!!!